
Ciclista da região afirmou que membros do grupo deixaram rastro de lixo nas trilhas por onde aram – Foto Arquivo pessoal
Uma travessia promovida pelo movimento Legendários, grupo cristão formado apenas por homens, provocou transtornos em Minas Gerais. A caminhada ocorreu entre os dias 10 a 13 de abril e o grupo ou sem autorização o parque estadual da Serra do Ouro Branco, na região central, a cerca de 110 km de Belo Horizonte.
De acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão do governo estadual que faz a gestão dessa unidade de conservação, integrantes do movimento também acamparam no local de forma ilegal, já que a atividade é proibida pelo plano de manejo do parque.
Em nota, o IEF também afirmou que o grupo comunicou a intenção de realizar atividades na área protegida com apenas dois dias de antecedência, sem atender ao prazo exigido pelo órgão, e encaminhou documentação incompleta.
Procurado via redes sociais e pelo contato da página oficial do evento, o Legendários La Conquista, responsável pela organização da travessia, não respondeu até a publicação da reportagem. Para fazer parte da edição, cada membro teve de pagar R$ 1.400.
Muito barulho
Evento produzido por um grupo de legendários acampou na Serra do Ouro Branco em abril – Foto Acervo pessoal
Moradores e profissionais que atuam na região também questionam métodos de integrantes do grupo. Ian Belo, que trabalha com turismo de aventura na região de Ouro Branco, cidade vizinha de Ouro Preto, diz que o grupo chegou de madrugada com veículos que fizeram barulho e afetaram uma comunidade de cerca de 150 pessoas que moram no local.
Ele também questiona o impacto da presença de centenas de participantes em uma unidade de conservação.
“Quando você coloca, por dinheiro ou não, 400, 300 pessoas em uma montanha, você deve ser questionado. Não importa se é um evento de corrida de montanha, ou de escalada. O reflexo disso é você ter uma dificuldade na gestão do impacto dessas pessoas”, afirma Belo.
Quem são os Legendários?
O grupo foi criado na Guatemala em 2015 e chegou ao Brasil dois anos depois Foto: Legendários/Divulgação
Voltado exclusivamente para homens, o Legendários promove imersões intensas na natureza, com a proposta de oferecer uma transformação profunda. Cada um que a pelo programa ganha um número. O legendário número um, dizem os organizadores, foi Jesus Cristo.
Um frequentador do local chamado Fernando, praticante de corrida de montanha, registrou em fotos montes de lixos deixados da última expedição e que só foram recolhidos pelos participantes no dia seguinte.
Ele afirmou que os dejetos foram tapados com cal e acrescentou que o plano de manejo do parque limita a agem de pessoas em alguns locais.
“Existem estudos com uma prospecção de quantas pessoas poderiam ar em cada trilha, de acordo com a relevância dela, com as características e preservação. Tem trilhas que podem ar 60 pessoas por dia”, diz.
No dia 11, uma equipe do IEF alertou os organizadores do Legendários sobre a irregularidade da ação e de que ela deveria ser interrompida. Como isso não aconteceu, uma vistoria foi realizada para apuração de possíveis infrações ambientais.
“O relatório está em fase de finalização e será encaminhado à istração para a adoção das medidas cabíveis, que podem incluir advertências e autuações”, diz o órgão.
*Com informações O Tempo