Ex-chefe da Aeronáutica confirma que Bolsonaro discutiu golpe

21/05/2025 | Brasil

Carlos de Almeida Baptista Junior – Foto Isac Nóbrega / PR

 

 

O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior – que comandou a Aeronáutica na gestão Jair Bolsonaro (PL) – depôs, por cerca de uma hora e meia nesta quarta-feira 21/5, à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo sobre tentativa de golpe.

 

O militar foi ouvido na condição de testemunha da Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável pela acusação contra a organização golpista, e também como testemunha de defesa dos réus Bolsonaro; Almir Garnier, ex-chefe da Marinha; e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.

 

Baptista Júnior confirmou diversos pontos do depoimento que prestou à Polícia Federal durante as investigações sobre a trama golpista. E destacou que Bolsonaro sabia e participou de reuniões em que um golpe de Estado foi discutido.

 

Reunião sobre plano golpista

 

Baptista confirmou que Bolsonaro participou de reuniões golpista – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

 

Baptista Júnior confirmou a realização de uma reunião de tom golpista com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, após o segundo turno das eleições de 2022, sobre “hipóteses de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição”.

 

Esses meios seriam uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou a implementação de um Estado de Defesa ou de Sítio.

 

O encontro dos comandantes das Forças Armadas com o então presidente teria ocorrido na primeira quinzena de novembro de 2022.

 

Ameaça de prisão

 

No depoimento, o ex-comandante da Força Aérea Brasileira confirmou que, durante essa reunião no Palácio da Alvorada, presenciou o general Freire Gomes, então comandante do Exército, ameaçar Bolsonaro de prisão caso a ideia golpista fosse levada adiante.

 

“O general Freire Gomes é polido, é isso que ele falou. Com muita tranquilidade e muita calma, mas colocou, que, se ele [Bolsonaro] fizesse isso ele teria que prender [o então presidente]”, relatou Baptista Júnior.

 

Minuta do golpe

 

Baptista Júnior afirmou ao STF que, no dia 14 de dezembro de 2022, em uma reunião no Ministério da Defesa, o ministro Paulo Sérgio Nogueira apresentou uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas.

 

Conforme o brigadeiro, nesse encontro, Paulo Sérgio Nogueira afirmou: “Trouxe aqui um documento para vocês lerem”.

 

No entanto, o ex-comandante da Aeronáutica disse que deixou o encontro sem ler a minuta golpista.

 

“Com base em tudo o que estava acontecendo, perguntei: ‘O documento prevê a não assunção no dia 1º de janeiro do presidente eleito [Lula]?’. Ele, [Paulo Sérgio Nogueira], disse: ‘Sim’. Eu disse que não aceitava nem receber esse documento. Me levantei e fui embora”, declarou.

 

Tropas à disposição da trama golpista

 

O depoente declarou que, nessa reunião em dezembro de 2022, o então comandante da Marinha almirante Almir Garnier afirmou que colocava as tropas à disposição da trama golpista.

 

Prisão de Moraes

 

Ministro Alexandre de Moraes – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

 

O militar também disse ter participado de reuniões em que os presentes faziam “brainstorming”, termo em inglês referente a debate de ideias de ação. E que, nessas discussões, os presentes cogitavam a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

 

“Eu lembro bem, houve a seguinte discussão: ‘Vai prender o Alexandre de Moraes, presidente do TSE? Vai. Amanhã, o STF vai dar um habeas corpus para soltar esse. E aí, nós vamos fazer o que? Vamos prender os outros 11?'”, contou.

 

“Mas isso era um brainstorming, buscando uma solução, que já estava no campo do desconforto. Pelo menos, para mim estava”, completou.

 

Ataques por resistir ao plano golpista

 

Baptista Júnior também declarou que, por ter resistido à iniciativa golpista, sofreu muitos ataques, que teriam sido ordenados pelo ex-ministro da Casa Civil Walter Souza Braga Netto – então candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro.

 

Ele contou que recebeu ataques do comunicador Paulo Figueiredo – neto de João Figueiredo, que foi o último presidente da ditadura militar no Brasil.

 

E que, até hoje, é chamado de “melancia” nas redes sociais – um termo usado por direitistas para criticar militares que, supostamente, são de esquerda, ou seja, “verde por fora e vermelho por dentro”.

 

“Tenho até hoje perfis no Twitter me chamando de melancia. Meu Twitter tive que fechar, chamam de ‘traidor da pátria’, que ‘não é patriota’. Esses ataques acontecem até hoje”, disse.

 

Tentativa não prosperou por falta de adesão ‘unânime’

 

O ex-comandante da FAB disse que as medidas golpistas não foram adiante porque não houve uma adesão “unânime” das Forças Armadas.

 

Bolsonaro sabia da inexistência de fraudes

 

Ao ser questionado pelo procurador-geral, Paulo Gonet, sobre se Bolsonaro tinha informações de que não havia indícios de fraudes no sistema eleitoral, o ex-comandante da Aeronáutica respondeu:

 

“Sim, [Bolsonaro foi informado disso] através do ministro da Defesa. Além de reuniões que eu falei, o ministro da Defesa que despachava sobre esse assunto”.

 

Ex-presidente pressionou para adiar relatório

 

Baptista Júnior foi indagado se o ex-presidente tentou interferir na divulgação de um relatório da comissão de fiscalização das eleições que atestava a lisura das urnas.

 

“Sim. […] eu ouvi que sim [Bolsonaro pressionou pelo adiamento da divulgação], certamente outras testemunhas poderão dar isso com mais precisão”, respondeu o militar.

 

 

*Com informações G1  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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